segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Crônica do cotidiano: Você tem direito (?)

Y diz:
- A situação é essa e você tem como opção  A, B, C, D e, inclusive, E... Faça sua escolha, você tem o direito.
Z, portanto, decide:
- Bom, então eu opto por B...
Y, enfurecido, logo retruca:
- Mas a opção 'B' não pode! Não, não...
Z se surpreende:
- Ué, mas eu tinha o direito de escolha... Não é?

De súbito, ganha visibilidade o requinte de crueldade de 'Y'.

Subterfúgio de amarrar gente.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

As garras (ganâncias) da minha vida

Agarro minha vida com as unhas, prendo ela a dentadas, não quero largar o osso.
Osso. Vida seca, portanto?
Qual é a vida da qual não quero largar?
Essa minha vontade de ter certeza de que estou completa e seguramente agarrada à vida...
Agarro-me aos fios da trepadeira. Melhor, me agarro à madeira. Ela é mais firme, resistente.
Firmeza e resistência. São essas coisas que são vida?
Talvez elas me prendam no chão, me prendam em mim, me impeçam de descolar, decolar.
Eis o motivo do meu medo de avião. Não há chão a se pisar. Quem controla o aeromóvel? Quem rege os fatos?
Não me sinto segura agarrando nuvens... Elas são de plástico.
Eu, agarrada à vida para recusar a morte. Mas a morte faz morada em mim. O morrer é cotidiano, tem duração no corpo. A morte é intensiva: modus morrendis.
A tábua a qual me agarro é a faca que me mata.
Representar uma forma:
Limites bem definidos.
O tempo está contido na forma

Há um pedaço de tempo que preenche o formato
A forma presentifica o pedaço de tempo
Cola-o nos trilhos do real

Quando passa, form-ato
Foi em ato

Fora da forma, o tempo persiste como movimento caótico
Liquidez, volatilidade

Existem pontos de fixidez e
Em volta da forma
Tudo é dança.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Rejeito toda e qualquer linearidade.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Clarices

Tenho achado que vou morrer. Rejeito a própria ideia de escrever sobre isso, pois penso na hipótese deste texto se tornar emblemático. Eu rejeito a morte. Mas o pensamento do morrer me persegue e me faz definhar, cotidianamente. Entre lágrimas, me lembro do diálogo de um filme em que a personagem, ao encarar uma moça, reflete: "Tão bela e tão triste". Estou sucumbindo nos meus pensamentos. Sinto que a cada dia está mais difícil travar a luta contra mim mesma. Eu poderia colocar todo o texto em 3ª pessoa e, dessa forma, o tornar alheio a mim. Mas eu não quero ser personagem de mim mesma. Ponho-me a pensar: que tem acontecido comigo, afinal? Eu temo o desconhecido, temo aquilo sobre o qual eu não tenho controle. Logo, temo a tudo. Meu desejo de controle tem me deixado maluca. A vida é sua, mas você não rege todos os fatos, contenha-se. Vejo-me frágil, a ponto de desfazer. Vejo a explosão no fim do caos. Eu deslizo pela linha trepidante esperando o ponto final. Tenho medo do escuro. O que é ser nada?
Surpreendo-me com o perseverar. Existem pessoas boas no mundo. Hoje uma pessoa boa me fez chorar. Agora eu ouço uma música para o meu coração. Ainda busco Deus.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Que bom é se deixar esquecer as coisas
Perder a cabeça em outros lugares
Não-lugares

O esquecimento corriqueiro é como uma brincadeira infantil
Minha cabeça brincou de esconde-esconde comigo
Fui procurar a obrigação, não achei.
Quando a encontrei, o tempo já tinha esburrado:
Sobrei no momento,
Não encaixei na forma,

Des-aconteci o acontecimento

As horas escorreram.
Relógios de Dalí por toda a parte.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Chegou pedindo licença para sentar e sentou. Olhou para mim.
Olhou de novo. 
Enquanto eu lia, ele intercalou:
- Tá se preparando, né?
Sorri. [Breve silêncio]
- Tá se preparando, né? Tá se preparando p'rá esse palco que é a vida.
E continuou:
- Sabe, moça, eu sou poeta. Mas, o meu estilo... Eu não sei se existe isso... É o trágico. 
Esse estilo é assim, ó: você olha p'rá vida e faz a poesia! É isso.


Ele cantou, recitou, orou. Orou uma oração bonita, que só ela! Bonita e adaptada.
O poeta viajante considerou que devemos prestar atenção às orações, para adaptá-las à vida que move.
Seu Pai Nosso modificado ficou assim:
Pai Nosso que estás no céu y em todo o lugar, ajudai-me a suportar toda a imensidão dessa vida.

O poeta cancioneiro-viajante chegou, sentou.
Cantou, recitou, orou.
Passou.

Corpos são intensidades.