segunda-feira, 3 de outubro de 2011

As garras (ganâncias) da minha vida

Agarro minha vida com as unhas, prendo ela a dentadas, não quero largar o osso.
Osso. Vida seca, portanto?
Qual é a vida da qual não quero largar?
Essa minha vontade de ter certeza de que estou completa e seguramente agarrada à vida...
Agarro-me aos fios da trepadeira. Melhor, me agarro à madeira. Ela é mais firme, resistente.
Firmeza e resistência. São essas coisas que são vida?
Talvez elas me prendam no chão, me prendam em mim, me impeçam de descolar, decolar.
Eis o motivo do meu medo de avião. Não há chão a se pisar. Quem controla o aeromóvel? Quem rege os fatos?
Não me sinto segura agarrando nuvens... Elas são de plástico.
Eu, agarrada à vida para recusar a morte. Mas a morte faz morada em mim. O morrer é cotidiano, tem duração no corpo. A morte é intensiva: modus morrendis.
A tábua a qual me agarro é a faca que me mata.
Representar uma forma:
Limites bem definidos.
O tempo está contido na forma

Há um pedaço de tempo que preenche o formato
A forma presentifica o pedaço de tempo
Cola-o nos trilhos do real

Quando passa, form-ato
Foi em ato

Fora da forma, o tempo persiste como movimento caótico
Liquidez, volatilidade

Existem pontos de fixidez e
Em volta da forma
Tudo é dança.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Rejeito toda e qualquer linearidade.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Clarices

Tenho achado que vou morrer. Rejeito a própria ideia de escrever sobre isso, pois penso na hipótese deste texto se tornar emblemático. Eu rejeito a morte. Mas o pensamento do morrer me persegue e me faz definhar, cotidianamente. Entre lágrimas, me lembro do diálogo de um filme em que a personagem, ao encarar uma moça, reflete: "Tão bela e tão triste". Estou sucumbindo nos meus pensamentos. Sinto que a cada dia está mais difícil travar a luta contra mim mesma. Eu poderia colocar todo o texto em 3ª pessoa e, dessa forma, o tornar alheio a mim. Mas eu não quero ser personagem de mim mesma. Ponho-me a pensar: que tem acontecido comigo, afinal? Eu temo o desconhecido, temo aquilo sobre o qual eu não tenho controle. Logo, temo a tudo. Meu desejo de controle tem me deixado maluca. A vida é sua, mas você não rege todos os fatos, contenha-se. Vejo-me frágil, a ponto de desfazer. Vejo a explosão no fim do caos. Eu deslizo pela linha trepidante esperando o ponto final. Tenho medo do escuro. O que é ser nada?
Surpreendo-me com o perseverar. Existem pessoas boas no mundo. Hoje uma pessoa boa me fez chorar. Agora eu ouço uma música para o meu coração. Ainda busco Deus.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Que bom é se deixar esquecer as coisas
Perder a cabeça em outros lugares
Não-lugares

O esquecimento corriqueiro é como uma brincadeira infantil
Minha cabeça brincou de esconde-esconde comigo
Fui procurar a obrigação, não achei.
Quando a encontrei, o tempo já tinha esburrado:
Sobrei no momento,
Não encaixei na forma,

Des-aconteci o acontecimento

As horas escorreram.
Relógios de Dalí por toda a parte.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Chegou pedindo licença para sentar e sentou. Olhou para mim.
Olhou de novo. 
Enquanto eu lia, ele intercalou:
- Tá se preparando, né?
Sorri. [Breve silêncio]
- Tá se preparando, né? Tá se preparando p'rá esse palco que é a vida.
E continuou:
- Sabe, moça, eu sou poeta. Mas, o meu estilo... Eu não sei se existe isso... É o trágico. 
Esse estilo é assim, ó: você olha p'rá vida e faz a poesia! É isso.


Ele cantou, recitou, orou. Orou uma oração bonita, que só ela! Bonita e adaptada.
O poeta viajante considerou que devemos prestar atenção às orações, para adaptá-las à vida que move.
Seu Pai Nosso modificado ficou assim:
Pai Nosso que estás no céu y em todo o lugar, ajudai-me a suportar toda a imensidão dessa vida.

O poeta cancioneiro-viajante chegou, sentou.
Cantou, recitou, orou.
Passou.

Corpos são intensidades.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sobre flores e abraços


No meio do caminho de pedras, eis que surge uma flor.
Flores:
Girassóis, jasmins, Janaínas.
Genuínas
Gerúndio
Amando, compondo, tecendo, deslizando


No meio do percurso, um encontro de corpos.
Abraços:
Bravuras, bondades, Bettinas
Beatitudes
Particípio
Acreditado, confiado, sentido, acalmado
  

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Constante

"Nem sequer está ao alcance deles criar um público para um narrador envelhecido, num mundo que não quer mais ouvir suas histórias, pois prefere perder a memória".

Pelbart, in A Nau do Tempo Rei, sobre os anjos de Wim Wenders em Asas do Desejo


  Tenho paixão pelo que é triste.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ate lá

Algumas linhas talvez me bastem.
Isso aqui é um depositório:
Lugar de entulhos.
Meus lixos humanos estão aqui
Minha dor aqui consta.

Céu aberto digital
Muro das lamentações
Aliterações da linguagem
Bobeiras desconexas

Tudo junto e tudo nada.

Sem nome

Sinto que sou passageira
Andante errante
Pessoa errada a vagar pelos encontros

Tenho prazer pelo provisório
(a arte de não durar)

Sou ermitão nas relações
Fujo
Tramo meu escape, como as tramas de um tecido

Transversalmente, sou atravessada
Tenho sempre um nó que me acompanha
E se aloja na garganta

Material volátil
Curiosamente, eu escorro ao invés de evaporar.
Sedução pela queda (?)

Decerto, sou de lugar nenhum
Só não me pergunte se sou feliz com isso.

Escapar me é pesado. Dói nas vistas.
A lágrima pesa na bochecha.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Não sou nenhum Spinoza para fazer piruetas no ar.


Tchekhov, La noce. Pléiade I, p. 618.