segunda-feira, 3 de outubro de 2011

As garras (ganâncias) da minha vida

Agarro minha vida com as unhas, prendo ela a dentadas, não quero largar o osso.
Osso. Vida seca, portanto?
Qual é a vida da qual não quero largar?
Essa minha vontade de ter certeza de que estou completa e seguramente agarrada à vida...
Agarro-me aos fios da trepadeira. Melhor, me agarro à madeira. Ela é mais firme, resistente.
Firmeza e resistência. São essas coisas que são vida?
Talvez elas me prendam no chão, me prendam em mim, me impeçam de descolar, decolar.
Eis o motivo do meu medo de avião. Não há chão a se pisar. Quem controla o aeromóvel? Quem rege os fatos?
Não me sinto segura agarrando nuvens... Elas são de plástico.
Eu, agarrada à vida para recusar a morte. Mas a morte faz morada em mim. O morrer é cotidiano, tem duração no corpo. A morte é intensiva: modus morrendis.
A tábua a qual me agarro é a faca que me mata.
Representar uma forma:
Limites bem definidos.
O tempo está contido na forma

Há um pedaço de tempo que preenche o formato
A forma presentifica o pedaço de tempo
Cola-o nos trilhos do real

Quando passa, form-ato
Foi em ato

Fora da forma, o tempo persiste como movimento caótico
Liquidez, volatilidade

Existem pontos de fixidez e
Em volta da forma
Tudo é dança.